Moradores da periferia são os que mais sofrem com a pandemia
A pandemia paralisou o mundo
de um jeito jamais visto, ao menos no mundo moderno. O vírus não discrimina
classe social, mas moradores da periferia estão sendo de fato, os mais
prejudicados.
O ano de 2020 começou com o
novo Covid-19 paralisando o mundo. Comércios fechados, quarentena e até mesmo
Lock Down foram recorrentes por todo o planeta. Todos tentando contribuir para
que a pandemia não avance. Contudo, dados mostram como moradores da periferia
tem sido os mais afetados pelo vírus. Além da falta de garantia de renda, muitos continuam
trabalhando mesmo com o risco de contágio
e ainda são submetidos ao transporte público, onde a probabilidade de
contaminação pode ser alta pela grande demanda. Segundo o boletim epidemiológico da cidade de São Paulo,
disponível no site da prefeitura de São Paulo de 30 de Maio de 2020, os bairros
de Brasilândia, Sapopemba e São Matheus são os que apresentam uma maior taxa de
óbitos pela Covid-19.
Fonte: Divulgação
Disponível em https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/PMSP_SMS_COVID19_Boletim%20Quinzenal_20200430.pdf Acesso em Maio
de 2020.
Os bairros da região
metropolitana Sé, Barra Funda e Alto de Pinheiros são os que apresentam o menor
número de óbitos por Covid-19. Claro que temos o problema da subnotificação,
porém esses dados são válidos para fins comparativos. Segundo o Mapa da
Desigualdade, realizado pelo site Nossa São Paulo (disponível em https://www.nossasaopaulo.org.br/wp-content/uploads/2019/11/Mapa_Desigualdade_2019_tabelas.pdf) de 2019, a taxa de favelas é maior nos três bairros
com maior número de casos, e menor nos três bairros com menor número de casos.
Outra diferença importante é o número de leitos de hospitais disponíveis, que
também está presente no Mapa da Desigualdade.
A tabla a seguir representa
bem essas diferenças:
Bairros
com menos casos de óbitos pelo Covid-19 |
|||
Bairro |
Número de
óbitos |
Proporção de
domicílios em favelas, em relação ao total de domicílios (%) |
Proporção de leitos hospitalares
(clínicos, cirúrgicos, pediátricos e obstétricos), públicos e privados,
disponíveis para cada mil habitantes |
Brasilândia |
67 |
29,60 |
0,011 |
Sapopemba |
64 |
21,58 |
0,845 |
São Matheus |
52 |
6,75 |
1,44 |
Bairros com menos casos de óbitos pelo Covid-19 |
|||
Bairro |
Número
de óbitos |
Proporção
de domicílios em favelas, em relação ao total de domicílios (%) |
Proporção de leitos hospitalares
(clínicos, cirúrgicos, pediátricos e obstétricos), públicos e privados,
disponíveis para cada mil habitantes |
Sé |
6 |
0 |
2,98 |
Butantã |
4 |
1,40 |
7,23 |
Barra Funda |
3 |
1,24 |
0,064 |
Tabela construída com valores do Mapa da Desigualdade e mapa de casos de óbitos
confirmados por Covid-19 por bairro.
Podemos ver claramente que os
bairros com maiores taxas de óbitos possuem uma proporção de domicílios em
favelas muito maior, e um valor de leitos em % muito menor (com exceção da
Barra Funda). Isso era quase que óbvio que aconteceria, afinal como dito
anteriormente, os moradores de áreas periféricas encontram mais dificuldades em
se proteger do vírus, e tendo uma maior chance de contágio, sem leitos o
suficiente, a chance de mortalidade é maior. Comparando os números de 17 de
Maio a 24 de Maio, tivemos um aumento de casos confirmados de 46% na
Brasilândia e 50% em Sapopemba, enquanto no Butantã o aumento foi de 25%. Essa
diferença tende apenas a crescer ao longo do tempo.
Como se a falta de leitos,
alta taxa de contaminação e falta de acesso a prevenção, moradores da periferia
ainda enfrentam um grave problema com o transporte público. Segundo a pesquisa
de mobilidade 2012 da região metropolitana de São Paulo, cerca de 50% da
população com renda familiar mensal de até 1.244,00 R$ utilizam o meio de
transporte público, contra menos de 20% da população com renda familiar mensal
de mais de 9.330,00 R$.
No dia 11 de Maio foi instituído um rodízio mais rígido durante a quarentena. Carros com placas de
final par poderiam circular nos dias pares, e carros com placas com final impar
poderia circular nos dias impares. Em teoria, essa medida foi instituída para
aumentar a adesão da população a quarentena, porém o efeito não foi bem este. O
número de carros nas ruas diminuiu, mas o número de pessoas no transporte
público aumentou. Considerando que pessoas de alta renda geralmente tem mais de
um carro, apenas as de baixa renda, com a necessidade de continuar trabalhando,
foram gravemente afetadas por isso. O prefeito Bruno Covas anunciou neste
sábado (17) o retorno ao rodízio antigo convencional, pois a medida não
apresentou efetividade para o isolamento, mas esses seis dias do megarrodízio
podem gerar outra explosão de números de casos de Covid-19 nas populações de
baixa renda.
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