Corona vírus: não estamos no mesmo barco

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Moradores da periferia são os que mais sofrem com a pandemia

    A pandemia paralisou o mundo de um jeito jamais visto, ao menos no mundo moderno. O vírus não discrimina classe social, mas moradores da periferia estão sendo de fato, os mais prejudicados.

    O ano de 2020 começou com o novo Covid-19 paralisando o mundo. Comércios fechados, quarentena e até mesmo Lock Down foram recorrentes por todo o planeta. Todos tentando contribuir para que a pandemia não avance. Contudo, dados mostram como moradores da periferia tem sido os mais afetados pelo vírus. Além da falta de  garantia de renda, muitos continuam trabalhando mesmo com o risco de contágio  e ainda são submetidos ao transporte público, onde a probabilidade de contaminação pode ser alta pela grande demanda. Segundo o  boletim epidemiológico da cidade de São Paulo, disponível no site da prefeitura de São Paulo de 30 de Maio de 2020, os bairros de Brasilândia, Sapopemba e São Matheus são os que apresentam uma maior taxa de óbitos pela Covid-19.


 

Fonte: Divulgação
Disponível em https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/PMSP_SMS_COVID19_Boletim%20Quinzenal_20200430.pdf  Acesso em Maio de 2020.

    Os bairros da região metropolitana Sé, Barra Funda e Alto de Pinheiros são os que apresentam o menor número de óbitos por Covid-19. Claro que temos o problema da subnotificação, porém esses dados são válidos para fins comparativos. Segundo o Mapa da Desigualdade, realizado pelo site Nossa São Paulo (disponível em https://www.nossasaopaulo.org.br/wp-content/uploads/2019/11/Mapa_Desigualdade_2019_tabelas.pdf) de 2019, a taxa de favelas é maior nos três bairros com maior número de casos, e menor nos três bairros com menor número de casos. Outra diferença importante é o número de leitos de hospitais disponíveis, que também está presente no Mapa da Desigualdade.

    A tabla a seguir representa bem essas diferenças:

 

Bairros com menos casos de óbitos pelo Covid-19

Bairro

Número de óbitos

Proporção de domicílios em favelas, em relação ao total de domicílios (%)

Proporção de leitos hospitalares (clínicos, cirúrgicos, pediátricos e obstétricos), públicos e privados, disponíveis para cada mil habitantes

Brasilândia

67

29,60

0,011

Sapopemba

64

21,58

0,845

São Matheus

52

6,75

1,44

Bairros com menos casos de óbitos pelo Covid-19

Bairro

Número de óbitos

Proporção de domicílios em favelas, em relação ao total de domicílios (%)

Proporção de leitos hospitalares (clínicos, cirúrgicos, pediátricos e obstétricos), públicos e privados, disponíveis para cada mil habitantes

6

0

2,98

Butantã

4

1,40

7,23

Barra Funda

3

1,24

0,064

    Tabela construída com valores do Mapa da Desigualdade e mapa de casos de óbitos confirmados por Covid-19 por bairro.

    Podemos ver claramente que os bairros com maiores taxas de óbitos possuem uma proporção de domicílios em favelas muito maior, e um valor de leitos em % muito menor (com exceção da Barra Funda). Isso era quase que óbvio que aconteceria, afinal como dito anteriormente, os moradores de áreas periféricas encontram mais dificuldades em se proteger do vírus, e tendo uma maior chance de contágio, sem leitos o suficiente, a chance de mortalidade é maior. Comparando os números de 17 de Maio a 24 de Maio, tivemos um aumento de casos confirmados de 46% na Brasilândia e 50% em Sapopemba, enquanto no Butantã o aumento foi de 25%. Essa diferença tende apenas a crescer ao longo do tempo.

    Como se a falta de leitos, alta taxa de contaminação e falta de acesso a prevenção, moradores da periferia ainda enfrentam um grave problema com o transporte público. Segundo a pesquisa de mobilidade 2012 da região metropolitana de São Paulo, cerca de 50% da população com renda familiar mensal de até 1.244,00 R$ utilizam o meio de transporte público, contra menos de 20% da população com renda familiar mensal de mais de 9.330,00 R$.

    No dia 11 de Maio foi instituído um rodízio mais rígido durante a quarentena. Carros com placas de final par poderiam circular nos dias pares, e carros com placas com final impar poderia circular nos dias impares. Em teoria, essa medida foi instituída para aumentar a adesão da população a quarentena, porém o efeito não foi bem este. O número de carros nas ruas diminuiu, mas o número de pessoas no transporte público aumentou. Considerando que pessoas de alta renda geralmente tem mais de um carro, apenas as de baixa renda, com a necessidade de continuar trabalhando, foram gravemente afetadas por isso. O prefeito Bruno Covas anunciou neste sábado (17) o retorno ao rodízio antigo convencional, pois a medida não apresentou efetividade para o isolamento, mas esses seis dias do megarrodízio podem gerar outra explosão de números de casos de Covid-19 nas populações de baixa renda.

    É mais uma vez, a população de baixa renda tendo que lutar para sobreviver, sem o apoio adequado do governo em um momento tão delicado para muitos. É meus amigos, definitivamente não estamos no mesmo barco.


Por Vanessa Polon

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